Author: Betânia Uchôa
•06:11:00



A DANÇA
Não te amo como se fosse rosa de sal, topázio
ou flecha de cravos que propagam o fogo:
te amo secretamente, entre a sombra e a alma.
.
Te amo como a planta que não floresce e leva
dentro de si, oculta, a luz daquelas flores,
e graças a teu amor vive escuro em meu corpo
o apertado aroma que ascender da terra.
.
Te amo sem saber como, nem quando, nem onde,
te amo directamente sem problemas nem orgulho:
assim te amo porque não sei amar de outra maneira,
.
Se não assim deste modo em que não sou nem és
tão perto que a tua mão sobre meu peito é minha
tão perto que se fecham teus olhos com meu sonho.
-Pablo Neruda-


By Luna Gitana

Author: Betânia Uchôa
•06:07:00

História

Eras a Musa
eu, o poeta...

Aconteceu naquele instante
em que, displicente,
me estendeste a mão dizendo adeus
- como que diz até logo, -
e eu tive a impressão de que subitamente,
minha vida era uma nova Pompéia
que submergia em lavas para os séculos.

Agora
revendo as provas dos velhos poemas
que me queimaram,
te desenterro estátua irreconhecível
entre cinzas e palavras,
lembranças de um mundo em que fomos personagens,
e em que hoje, és história,
e eu, - arqueólogo.

(J.G. de Araujo Jorge)

                                        By Davi
Author: Betânia Uchôa
•10:32:00


Enquanto não atravessarmos a dor de nossa própria solidão, continuaremos

a nos buscar em outras metades. Para viver a dois, antes, é necessário ser um.

*Fernando Pessoa*
Author: Betânia Uchôa
•10:26:00

Uma Maior Solidão

Uma maior solidão
Lentamente se aproxima
Do meu triste coração.

Enevoa-se-me o ser
Como um olhar a cegar.
A cegar, a escurecer.

Jazo-me sem nexo, ou fim...
Tanto nada quis de nada,
Que hoje nada o quer de mim.

Fernando Pessoa
Author: Betânia Uchôa
•10:05:00


Canção grata

Por tudo o que me deste
inquietação cuidado
um pouco de ternura
é certo mas tão pouca
Noites de insónia
Pelas ruas como louca
Obrigada, obrigada
Por aquela tão doce
e tão breve ilusão
Embora nunca mais
Depois de que a vi desfeita
Eu volte a ser quem fui
Sem ironia aceita
A minha gratidão

Que bem que me faz agora
o mal que me fizeste
Mais forte e mais serena
E livre e descuidada
Sem ironia amor obrigada

Obrigada por tudo o que me deste
Por aquela tão doce
e tão breve ilusão
Embora nunca mais
Depois de que a vi desfeita
Eu volte a ser quem fui
Sem ironia aceita
A minha gratidão


Florbela Espanca