Author: Betânia Uchôa e seu universo in versos
•09:32:00




Se as minhas mãos pudessem desfolhar



Eu pronuncio teu nome
nas noites escuras,
quando vêm os astros
beber na lua
e dormem nas ramagens
das frondes ocultas.
E eu me sinto oco
de paixão e de música.
Louco relógio que canta
mortas horas antigas.

Eu pronuncio teu nome,
nesta noite escura,
e teu nome me soa
mais distante que nunca.
Mais distante que todas as estrelas
e mais dolente que a mansa chuva.

Amar-te-ei como então
alguma vez? Que culpa
tem meu coração?
Se a névoa se esfuma,
que outra paixão me espera?
Será tranqüila e pura?
Se meus dedos pudessem
desfolhar a lua!!



Garcia Lorca
Author: Betânia Uchôa e seu universo in versos
•10:32:00




ÊXTASE

Eu estava só perto do rio, numa noite estrelada .
Não havia nuvens nos céus, em oceanos sem véus.
Meus olhos mergulharam mais longe que o mundo real.
E bosques, e montes, e toda a natureza,
Parecia interrogar-se num sussurro confuso
Rio de oceanos, os fogos do céu.
E estrelas d'ouro, legiões infinitas,
Em voz alta, em voz baixa, com mil harmonias,
Dizendo, enquanto inclinavam suas coroas de fogo;
E os rios azuis que nada governa e nunca param,
Dizendo , enquanto a cristas de suas espumas dobravam :
- É o Senhor, o Senhor Deus!


Victor Hugo
Author: Betânia Uchôa e seu universo in versos
•03:31:00


Nada que sou

Nada que sou me interessa.
Se existe em meu coração
Qualquer cousa que tem pressa
Terá pressa em vão.

Nada que sou me pertence.
Se existo em que me conheço
Qualquer cousa que me vence
Depressa a esqueço.

Nada que sou eu serei.
Sonho, e só existe em meu ser,
Um sonho do que terei.
Só o que não hei de ter.

Fernando Pessoa
Author: Betânia Uchôa e seu universo in versos
•12:23:00


"Querer"

Não te quero senão porque te quero
E de querer-te a não querer-te chego
E de esperar-te quando não te espero
Passa meu coração do frio ao fogo.

Te quero só porque a ti te quero,
Te odeio sem fim, e odiando-te rogo,
E a medida de meu amor viageiro
É não ver-te e amar-te como um cego.

Talvez consumirá a luz de janeiro
Seu raio cruel, meu coração inteiro,
Roubando-me a chave do sossego.

Nesta história só eu morro
E morrerei de amor porque te quero,
Porque te quero, amor, a sangue e a fogo.


PABLO NERUDA